sábado, 18 de outubro de 2008

Amor e Origami,por Brena Bráz.

Isso não é um poema. Nunca soube fazer poesia. Escrevo assim mesmo. Reto. Com minhas idéias tortas. Magôo as pessoas com palavras mal-ditas. Duvido do seu amor por mim e te testo o tempo inteiro. É o que você me diz. É o que eu faço sem perceber porque me acostumei a não acreditar nas pessoas. Você move o mundo, sacode nas curvas dessa estrada tonta enquanto eu me recuso a te dar qualquer garantia.

Você me fotografa a cada movimento com seu celular de não-sei-quantos mega pixels e acha lindo até meu nariz torto. Você tem ciúme dos meus amigos da academia que me vêem com roupas minúsculas, dos meus amigos que saem comigo pra balada - e também me vêem com roupas minúsculas - e do veterinário do meu passarinho, que não sabe nem que roupa eu uso. Eu te bloqueio no MSN, desligo o celular pra não te atender e esqueço de passar o perfume que você gosta em mim. Você faz planos pra gente ficar junto pra sempre, enquanto eu estudo a hora que o sol bate no meu prédio no inverno. Você quer casar e ter filhos, eu quero dormir sozinha na minha cama queen e ter uma casa com uma girafa, uma onça e 379 pássaros. Soltos. Você quer me segurar. Eu quero ser solta.

Você escreve melhor que eu, e eu reclamo das suas palavras. Eu peço pra você tirar a barba numa semana e digo que não gosto da sua cara lisa. Você me alisa. Eu te analiso. Você sua pra eu ser sua. Você se esforça. Você vem atrás. Você tenta. Eu implico.

Eu faço leilão comigo mesma pra ver se você dá mais. Eu me coloquei à venda pra ver quanto eu valho pra você. Pra descobrir depois desse tempo todo que eu valho suas noites de sono. Eu compenso a distância. Por mim, você chora, viaja, muda de vida, larga o emprego, muda de rumo, troca de cidade.

Por mim, não precisa fazer nada disso. Acabou o choro, a gente vai ser só riso. Chega de viagem, eu to indo ficar com você. Não precisa mudar de vida, eu mudo com você. Eu mudo e vou continuar sendo a mesma chatinha que você ama. A chatinha tatuada. A sua chatinha. A chatinha que tinha um coração aposentado porque apanhava mais do que batia. A chatura infinita que você dobrou, amoleceu e arrancou de dentro dela uma cidadã que ela não lembrava mais que existia. E agora, não quero esquecer mais um segundo. E se eu esquecer, tenho você pra me lembrar. Tenho você com esse nariz lindo pra me lembrar que eu odeio o meu. Tenho seus textos perfeitos que me deixam sem palavras e me fazem querer apagar tudo que já escrevi. Tenho esse homem maduro do meu lado pra me lembrar que eu preciso ser uma pessoa melhor. Tenho você que conhece meus defeitos e só enxerga o meu melhor. Tenho você que me faz acreditar que não preciso de mais nada. Tenho você e isso me basta. Tenho você e, agora, você me tem.